segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Uso de "como" em vez de "enquanto"

E-mail de Emílio F.: “Professor, está certo o uso de “enquanto” nesta frase: ‘Enquanto representante da turma, cabe a ele nos defender’? Obrigado.”
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Está não, Emílio. “Enquanto” não é preposição, e sim conjunção. Introduz oração que indica um fato simultâneo a outro, expresso na oração principal. Por exemplo: “Enquanto a mãe trabalha, ele estuda. Na sua frase, o melhor é substituir “enquanto” pela preposição “como”, que significa “na condição de”.

       Abraço.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

É correto falar em "boato falso"?

E-mail de Lúcia F.: “Professor, está correta a expressão ‘boato falso’? Todo boato não é uma invenção? Obrigada.”

Prezada Lúcia, em sua origem latina “boato” significa “berro ou mugido de boi”. Daí a palavra evoluiu parasom forte, estrepitoso” e, posteriormente, paraclamor de novidade”.
Um de seus sentidos hoje é o de “notícia desconhecida, muitas vezes infundada, que se divulga entre o público” (Houaiss). Ou seja, nem sempre o que se divulga num boato é invenção.
Segundo Luiz Antonio Sacconi, em seuDicionário de dúvidas, dificuldades e curiosidades da língua portuguesa”, “boato” significa “notícia de procedência anônima, falsa ou verdadeira”. Falar emboato falsonão é, portanto, redundância.
Abraço. 

domingo, 15 de novembro de 2015

Uso do artigo

        E-mail de Paulo Roberto P.: “Professor, parabéns pelo blog. Fantástico. Pode me auxiliar? Qual destas formas de escrever está correta? ‘Manhã da oração’ ou ‘Manhã de oração’? Obrigado.”
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Caro Paulo, o uso do artigo depende de o termo "oração" estar definido.

Se for, genericamente, uma manhã para se rezar, diz-se "manhã de oração" (qualquer que seja ela). Caso se trate de uma oração específica, já definida, deve-se dizer "manhã da oração".
Abraço.

domingo, 11 de outubro de 2015

A palavra "inerente"

    E-mail de Carla P.: “Professor, está correto o uso de ‘inerente’ nesta frase: ‘A mulher deixou de ter o seu destino social inerente à maternidade e ao casamento’? Obrigada.”
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         Está não, Carla. A palavra “inerente” designa um traço constitutivo de alguém ou algo. Isso independe de circunstâncias. A maternidade continua inerente à mulher, mas deixou de estar ligada ao seu papel social. 
      O correto, diante disso, é substituir “inerente” por “ligado” ou “vinculado”.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Vírgula antes de "com"

          E-mail de Letícia G.: “Professor, quando posso usar vírgula antes de ‘com’? Ex: ‘Aptos e coberturas de 3 e 2 quartos, com suíte e o melhor lazer do bairro.’ Obrigada’”.
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A vírgula antes de “com” introduzindo adjuntos é sintaticamente possível; deve-se, no entanto, observar o efeito semântico. A pausa representada pela vírgula desvincula o antecedente do termo introduzido pelo “com”.

      Aproveitando o seu exemplo: “quartos com suíte” constitui uma unidade autônoma; a preposição introduz um determinante de “quartos”. Com a vírgula, o sentido é outro; entende-se que o conjunto “com suíte e o melhor lazer do bairro” refere-se aos apartamentos e coberturas.

Dúvida sobre a flexão do infinitivo

       E-mail de Letícia G: “Professor, qual das seguintes frases está correta: ‘...eles optaram em realizar as ações’ ou ‘...eles optaram em realizarem as ações’?  Obrigada.”
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          Cara Letícia, o infinitivo não se flexiona quando tem o mesmo sujeito da oração principal (no caso, “eles”). Sendo assim, a forma correta é a primeira. Há outro problema em sua frase: o verbo “optar” introduz complemento por meio da preposição “por”, e não “em”. Deve-se então dizer: “eles optaram por realizar as ações”.

Dúvida de concordância verbal

E-mail de Letícia G.: “Professor, como deve ser a concordância na frase: ‘Um Calçada completo e um carro zero na garagem, só depende/dependem do imóvel que você escolher”? (esse ‘Calçada’ é um apartamento, uma marca). Obrigada.”

         Aparentemente os termos “Calçada” e “carro” são os núcleos de um sujeito composto, o que levaria o verbo para o plural. Esses termos são na verdade objetos diretos de um verbo implícito, “ganhar”.  


“Depender” fica então no singular, concordando com o sujeito oracional, que não pode vir separado por vírgula do verbo: “Ganhar um Calçada completo e um carro zero na garagem só depende do imóvel que você escolher.” 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Plurais com o prefixo "multi"

E-mail de Adauto Neto: “Professor, por que palavras formadas com o prefixo ‘multi-’, que já tem ideia de plural, necessitam de um S no final (multitarefas e não multitarefa)? Obrigado.”

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         Caro Adauto, o prefixo “multi” aparece na formação de vários adjetivos em português (multimodal, multidisciplinar, multicor etc.) Tais adjetivos se flexionam quando modificam os substantivos a que se referem (frequências multimodais, cursos multidisciplinares, planícies multicores etc.).
         O substantivo “multitarefa”, segundo o Houaiss, designa a “capacidade que possui um sistema operacional de computador de executar mais de um programa simultaneamente”. Como adjetivo, ele caracteriza sobretudo as pessoas capazes de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo. Nesse caso, segue a tendência normal na língua de se adequar em número ao termo determinado (pessoas multitarefas).

domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre o gerúndio com valor de adição

E-mail de Christianne Inglês de Sousa: “Professor, a respeito do seu artigo ‘Armadilhas do gerúndio’, publicado na revista Língua Portuguesa, tenho uma dúvida. Na frase ‘Pedro fechou o portão, ganhando a rua’, a oração gerundial tem o mesmo sujeito da anterior (Pedro) e equivale a uma oração aditiva (e ganhou a rua). É possível que uma oração com sujeito indeterminado pela partícula ‘se’ seja estruturada da mesma forma? Na construção ‘Precisa-se de empregados, considerando que a empresa está aumentando’, o sujeito de ‘considerando’ é o mesmo de ‘precisa-se’? Em caso afirmativo, é necessário o uso da partícula ‘se’ em ‘considerando’ (considerando-se)? Muito obrigada.”
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Prezada Christianne, não basta o gerúndio vir depois para se caracterizar o valor aditivo. É preciso que a ação expressa na segunda oração seja posterior ao que está expresso na primeira. O enunciado que você me manda não equivale a “Precisa-se de empregado e se considera que a empresa está aumentando”. A sequência não é essa, pois logicamente primeiro ocorre o aumento da empresa, que leva à necessidade de mais empregados. A melhor ordem, parece-me, é começar com a oração do gerúndio (uma subordinada adverbial causal): “Considerando que a empresa está aumentando, precisa-se de empregados.”
     O sujeito não deixa de ser o mesmo, embora esse “considerando que” esteja um tanto gramaticalizado (Uma vez que a empresa está aumentando...).  Nessa ordem, nada impede que apareça o “se”, que pode no entanto ser descartado por motivo de eufonia (ele se repete na oração principal). Há outras possibilidades de redação, que deixam de lado esse protocolar “considerando que”: “Com o aumento da empresa, precisa-se de empregados” ou “Como a empresa está aumentando, precisa de empregados”

domingo, 2 de agosto de 2015

Sobre a conjugação composta

E-mail de Maria das Graças: “Professor, a conjugação composta é uma locução verbal ou simplesmente um excesso que pode ser simplificado? Encontrei essa num jornalzinho: ‘Ajustes finais nas obras da nova agência que deverá estar sendo entregue nos próximos dias.’ O destaque foi meu. Agradeço a atenção desde já.”
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            Prezada Graça, os tempos compostos são formados com os auxiliares “ter” e “haver” mais o particípio do verbo principal; logo, não há incompatibilidade entre as locuções e esses tempos, que não são meros “excessos”. Eles indicam determinados matizes que não aparecem nos tempos simples (“tenho cantado”, por exemplo, é diferente de “cantei”).

          No exemplo que você dá existem dois auxiliares: um modal (dever) e outro formador de voz passiva (ser). A construção “estar sendo” não passa de um modismo decalcado do inglês e deve ser evitada. É melhor escrever: "Ajustes finais nas obras da nova agência, que deverá ser entregue nos próximos dias."