domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sobre o esquema tópico-comentário

     E-mail de Valéria X. L: “Professor, não me conformo quando escuto políticos, jornalistas, repórteres falando: ‘A Presidente Dilma ela esteve aqui’, ‘O filme ele foi muito bom’ ‘As crianças elas estão bem’. O pronome não seria uma redundância?”
                                             ****   O uso desse pronome, que ocorre sobretudo na linguagem oral, corresponde à atual tendência dos falantes em estruturar frases segundo o esquema tópico-comentário (em vez de sujeito-predicado).

    Os termos que iniciam as orações aparecem como tópicos, ou seja, como elementos autônomos que são depois retomados às vezes com a quebra da estruturação sintática (anacoluto). Por exemplo: “Aquela moça, não converso mais com ela."


        Você está certa: o pronome é uma maneira de reforçar o tópico.  Na linguagem oral, ele parece defini-lo após uma breve pausa (pausas, hesitações são muito comuns na fala). Já na escrita não há como justificar o pronome a não ser por razões estilísticas. Como neste exemplo de Herculano: “A podenga negra, essa corria pelo aposento.”

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A diferença entre "senão" e "se não"

        E-mail de Raimundo T.: “Professor, como se classifica a palavra ‘senão’ e qual o modo de distingui-la de ‘se não’?”.

        O vocábulo “senão” classifica-se como conjunção alternativa (“Lute, senão você será derrotado”), conjunção adversativa (“Não desejava dinheiro, senão o reconhecimento do seu trabalho”) ou preposição (“Hoje não faz senão chorar”).
 

No conjunto “se + não” aparecem uma conjunção condicional e um advérbio de negação. Está implícito um verbo após esses dois vocábulos: “A aprovação indiscriminada é um procedimento antididático, se não (for) demagógico”.

Sobre o uso de "quando ter"

       E-mail de Cristóvão Sarmento: “Professor, li numa matéria sobre um medicamento para impotência sexual: ‘Por ser ingerido diariamente, não é preciso calcular quando ter relação (os outros remédios exigem um tempo para fazer efeito)’. Depois de ‘quando’ o certo não seria ‘tiver’?”

   A frase está correta, Cristóvão. O vocábulo “quando” nesse contexto não é conjunção, e sim advérbio. O redator afirma que, ao contrário de outros medicamentos, esse remédio pode ser ingerido sem que se precise calcular o momento adequado para ter relação.


    A oração iniciada por “quando” não é temporal, mas objetiva direta. Caso ela indicasse uma circunstância de tempo, o período ficaria lacunoso pois não se saberia qual o objeto do verbo calcular. 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A flexão de "todo-poderoso"

           Pergunta de José Fernandes, via Facebook: “Professor, o certo é ‘Todo-Poderoso’ ou ‘todo poderoso’, quando se referir a Deus? Uma professora me disse que seria ‘Todo Poderoso’”.
 
        “Todo-poderoso” é um adjetivo composto e, como tal, leva hífen. Quanto à flexão, mantém invariável o primeiro elemento, que equivale a um advérbio. Exemplo: “Ele é o todo-poderoso (Ela é a todo-poderosa) chefe da repartição”.
 
      Substantivado, equivale a Deus: “Precisamos crer no Todo-Poderoso”. Não existe o substantivo “Todo Poderoso”.